Obsessão na Infância (Adenáuer Novaes)

Os pais de Vinicius são espíritas e se dedicam juntos à tarefa de dar passes no Centro que frequentam há seis anos. Começaram a notar que o filho de cinco anos poderia estar sofrendo algum tipo de influência espiritual quando ele apresentou os seguintes sintomas: sono agitado, choro sem causa aparente, medo fóbico, dores imaginárias, agressividade para com os familiares e verbalização de palavras incomuns ao seu vocabulário. 

Mesmo desconfiados de que poderia ser obsessão levaram-no a conhecido médico da família que, após solicitar alguns exames rotineiros, aconselhou aos pais que procurassem auxílio psicológico. E assim eles fizeram. Consultaram simultaneamente o profissional recomendado pelo médico e procuraram o setor de entrevistas do Centro para encaminhamento do problema. 

O profissional, após conversas com os pais e depois com a criança, notou que havia ansiedade e estresse no comportamento dela e iniciou seu trabalho técnico com sessões duas vezes por semana. 

O Centro Espírita recomendou que a criança iniciasse uma série de dez sessões de passes e que os pais procurassem conversar com ela de forma a deixá-la tranquila e segura. Recomendaram que fizessem a leitura do Evangelho no quarto da criança e que, após dormisse, orassem junto a seu leito, transmitindo-lhe confiança e paz. 

Após essas providências notaram que, gradativamente, a criança foi voltando ao normal e os sintomas foram desaparecendo. Acharam, provavelmente com razão, que a melhora da criança se deveu à conjunção entre o tratamento psicológico e o espiritual. 

De que forma pode haver obsessão numa criança na primeira ou segunda infância se não se pode notar qualquer sinal de má conduta que a motive? A resposta está nas matrizes psicológicas do inconsciente passado. Lá no perispírito se encontram gravados os registros de suas encarnações, os quais atraem espíritos que lhe estão vinculados emocionalmente.

Quando ela ocorre na infância, significa que aquele espírito encarnado foi, de alguma maneira, localizado pelos seus algozes e o processo que motiva a obsessão se encontra muito próximo da consciência. Requer cuidado adicional dos pais, haja vista a inconsciência da criança quanto ao que lhe ocorre.

Independente do tratamento médico, psicológico e espiritual que o problema pode requerer, devem os pais trabalhar na consciência da criança ensinando-lhe a respeito do valor do perdão e da necessidade dela aprender a amar. 

Durante o sono o inconsciente está mais acessível por parte do espírito, visto que a barreira do corpo lhe é suprimida. No momento em que a criança dorme, os pais, ao orarem por ela, proporcionarão que receba vibrações, as quais lhe serão favoráveis nos processos aversivos em que estiver envolvida . 

Mesmo estando num corpo infantil, o espírito estará sujeito às contingências obsessivas que porventura ocorram, mas contará com a ajuda de benfeitores espirituais e de seus pais a fim diminuir o impacto em sua nova personalidade. 

A cada encarnação o espírito estrutura uma nova personalidade, pois um novo ego se formou. Com a morte do corpo ele assumirá, por sua vez, outra personalidade. Cada personalidade é fruto de uma época e um meio típico, porém ela receberá as contribuições de suas personalidades anteriores. O Espírito é o mesmo, mas a forma como se apresenta ao mundo, influenciado principalmente pelas personas de vidas passadas, variará a cada período no qual esteja vinculado a um corpo. 

As obsessões que ocorrem na adolescência, via de regra, apresentam as mesmas características da infância, pois o indivíduo se apresenta com o mesmo medo e inconsciência do que lhe ocorre.

Fundamental nas obsessões em crianças e adolescentes é favorecer a estruturação de um ego forte e amoroso.

É pouco comum encontrar crianças obsedadas. Parece haver algum tipo de proteção que as cerca, de tal forma, que a ação de espíritos desencarnados sobre elas é muito pouco observada. Ou elas gozam de alguma proteção espiritual ou o amor que lhes é dedicado pelos pais consegue neutralizar a ação maléfica que porventura se faça contra elas. 

Os sinais mais evidentes daquela influência, quando ocorre, são: sono agitado, agressividade, comportamentos estereotipados, doenças psicossomáticas, medo sem causa aparente seguido da exigência intensa da presença materna ou paterna, choro constante, fala desconexa com falha no curso do pensamento, etc. Alguns desses sintomas isolados podem ocorrer em função de problemas orgânicos, o que deve levar os pais, em todos os casos, à busca de orientação profissional. 

Na adolescência é mais comum a obsessão simples, pois é a fase da auto-afirmação e da tendência à transgressão. O adolescente é mais suscetível que a criança, não só em face da vulnerabilidade maior ao livre arbítrio, como também da maior exposição às influências de seu grupo social. O desejo de experimentar o proibido, bem como a maior lembrança de seu passado reencarnatório, o colocam como alvo fácil à obsessão simples. 

Tanto em crianças como em adolescentes a terapia mais recomendada é o tratamento de passes. Em alguns casos deve-se levar a criança a tratamento psicológico. Nos adolescentes geralmente o tratamento psicológico é sempre bem vindo. 

A adolescência é o período onde ocorrem grandes transformações hormonais e emocionais. Nela o espírito dá seus primeiros passos para consolidar sua personalidade. Deseja ele intensamente sua autonomia e o estabelecimento de sua identidade que cada vez mais quer que seja diferente da de seus pais. Nem sempre seus desejos de autodeterminação se realizam devido a fatores que lhes fogem à compreensão. Via de regra ele não está atento às injunções cármicas. 

Na infância a agressividade é mais rara, porém, quando ocorre, costuma vir associada a outros fatores. Um deles é a ansiedade e o outro é a hiperatividade. A criança agressiva muitas vezes quer demonstrar sua insatisfação com alguma coisa que lhe pode ser inconsciente. Às vezes, também pode querer chamar a atenção para o descaso dos adultos quanto a ela. 

No adolescente também pode estar associado ao uso de drogas ou mesmo à ausência paterna. A insatisfação do adolescente também pode decorrer de certos complexos típicos da fase. A insatisfação com o corpo e a dificuldade em lidar com os desafios de inserção num grupo podem ser motivos da agressividade. 

Em alguns casos pode-se observar, pela força física de alguns jovens, agressividade além de limites toleráveis quando eles partem para a agressão física. Nesses casos a família deve buscar ajuda especializada para evitar que alguém, por medo ou pena, venha a sofrer graves danos a si mesmo.

A passividade nos casos de agressão física pode significar um estímulo à coerção pretendida.

Necessário que, tanto com a criança quanto com o adolescente, se busque o diálogo sem entrar na mesma energia de raiva que costuma aparecer quando o que se quer é a paz. Deve-se estar atento às influências obsessivas neste período, no qual o espírito já é senhor de seu corpo. Embora ainda não seja adulto, já tem a encarnação fisicamente completada. 

É de bom alvitre, quando se observarem sinais ostensivos de mediunidade antes da adolescência, que eles não sejam estimulados, isto é, que a criança não seja levada à prática ou ao exercício da faculdade que porventura apresente. Quando se observarem tais fenômenos, deve-se tratá-los naturalmente para que não desperte a criança precocemente para algo que lhe pode ser prejudicial. 

A mediunidade é uma faculdade natural e pode ser exercida no ambiente do lar. Nada impede que em família se possa exercer o contato com os espíritos desencarnados, seja para alguma orientação a eles ou, ao contrário, para lhes receber auxílio. Porém, é necessário que as pessoas que assim agirem tenham conhecimento a respeito da prática mediúnica, consoante os ensinos e advertências de Allan Kardec, expressos em 'O Livro dos Médiuns'. 

Muitos que se iniciaram na prática mediúnica em casa acabaram por prejudicar o ambiente doméstico com interferências indevidas de desencarnados nas relações entre familiares. 

"Mas, se vós soubésseis o que significa: Misericórdia quero, e não holocaustos, não teríeis condenado a inocentes. " (Mateus, 12:7)

Devemos atentar para a afirmação do Cristo quanto a querer a misericórdia. Parece-me que ele faz a opção por ela em lugar da punição, contrariando o pensamento corrente do efeito igual à causa. 

A forma educativa precípua de que se utiliza Deus para fazer evoluir a criatura é o amor seguido da misericórdia. As expiações são medidas extremas nos casos onde o amor não atingiu aquele que desconhece sua eficácia. Mesmo que o ser humano persista em seu equívoco por ignorância, a misericórdia atuará e, conseqüentemente, os efeitos que porventura venha a sentir em si como forma educativa, serão mais atenuados que as causas que os geraram. 

Crianças que apresentam sinais precoces de obsessão são espíritos que conservam equívocos do passado cujas conseqüências são logo vistas para a necessária correção. Apresentam-nos cedo para que logo deles se livrem e possam ter uma encarnação menos problemática.

O Cristo acena sempre com a misericórdia e o amor a todos que deles se afastaram. 

Adenáuer Novaes 





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