Estamos esperando a lei que regulamente a nossa sensibilidade?

No dia 24 de Junho deste ano entrou em vigor a lei nº. 18118 que proíbe o uso de equipamentos eletrônicos — leia-se celular e similares — para fins não pedagógicos durante o horário de aulas nos estabelecimentos de educação de ensino fundamental e médio no Estado do Paraná.

No Distrito Federal o uso de celular em sala de aula é vetado em todos os colégios públicos e particulares pela Lei Distrital nº 4.131, que também proíbe os alunos usar qualquer aparelho eletrônico capaz de armazenar e reproduzir arquivos de música, CDs e jogos, como MP3 players e videogames.

Nada mais acertado.

Está provado que o processo cognitivo depende do foco no objeto de aprendizagem, portanto qualquer elemento estranho que rouba a atenção e dificulta a concentração evidentemente o prejudica.

Naturalmente como ocorreu com outras leis que regulamentavam algum tipo de obviedade — tais como a lei antifumo, por exemplo — surgiu uma certa resistência no início, mas com o passar do tempo a prática já se incorpora na conduta diária, haja vista que muitos anos antes da atuação de nossos legisladores as escolas já apresentavam tal norma de conduta em seu regimento interno.

Assim, a maioria dos alunos passa a deixar seus celulares no modo silencioso ou mesmo desligados ao entrar em sala. Dá para perceber que compreendem perfeitamente as razões de tal proibição, consentem e colaboram.

Geralmente quando ocorre alguma desobediência às normas, ela é pontual, muito rara e está efetivamente relacionada a um simples esquecimento por parte do aluno, que ao ser alertado desliga o telefone sem maiores problemas.

Fica patente que tudo deve ser regido pelo bom senso, afinal devemos ser rigorosos para que ocorra essa otimização do uso de tais dispositivos em ambiente escolar – mas ser rigoroso não quer dizer ser rígido.

Porque existem momentos em que cabe perfeitamente a utilização de um celular smartphone para fazer uma consulta rápida à internet, a um dicionário, a um livro digital e assim por diante.

Infelizmente a lei surgiu como uma necessidade de regulamentar o uso desses dispositivos em virtude de tensões crescentes em muitas comunidades escolares.

Mesmo sendo uma obviedade e uma simples norma de boa conduta teve que virar lei para que de um modo geral fosse levada à sério.

Agora eu me pergunto:

— Será que terá que virar lei a regulamentação do uso desses dispositivos — não apenas nas atividades escolares — mas também nas demais atividades cotidianas?

Algo no estilo:

— Fica proibido a insensibilidade nas relações interpessoais.

Ou melhor:

Desligue seu celular e viva!

Não é raro ver aquele punhado de pessoas robotizadas cutucando seu smartphone ou outro equipamento análogo completamente alheias ao que acontece ao seu redor. Desprezando a interação pessoal e imediata de quem está ali, presencial, em carne e osso, a seu lado.

E por que disso?

Será que esperamos uma lei estadual, federal ou universal para que aprendamos a ter sensibilidade de enxergar o óbvio?

Será que essa forma de inversão de hierarquia não será apontada, em um futuro mais esclarecido, como mais uma doença social desses anos bárbaros?

Gente! É sério! De verdade!

Custa deixar o telefone desligado ou mesmo colocado no modo silencioso quando estamos rodeados de amigos ou familiares?

O que pode ser tão urgente e tão prioritário que nos impeça de conversar pessoalmente com uma pessoa querida sem interrompê-la para cutucar um aparelho eletrônico? Tá. Tem alguém do outro lado. Mas será que ele não pode esperar um pouco?

— Afinal dar a atenção para quem está do nosso lado, fisicamente, nos dando atenção é muito mais que um ato de respeito e consideração.

É acima de tudo uma demonstração de afeto.

Não! Não é assim! São os outros que me ignoram!

São os outros que fincam a cara em suas gerigonças acessando infinitas redes sociais onde se emula a amizade.

Eu apenas dou o troco.

Eu não recebo atenção portanto também não dou a atenção.

Fica assim estabelecido o jogo do perde-perde, onde o egoísmo e a vaidade são as molas propulsoras de um revanchismo cíclico e retroalimentado.

É o aparelho em si que oferece essa alternativa ou somos nós seres pretensamente humanos que estamos paulatinamente nos desumanizando? Virando anexo de um eletrônico?

Eu penso que a tecnologia está a nosso serviço e somos nós quem apertamos os botões!

Ou não?

Afinal tais aparelhos foram concebidos para efetivar nossa comunicação – um enlace cognitivo e afetivo entre duas inteligências.

Acho que está faltando afeto e inteligência para estabelecer essa comunicação.

Comunicação?

Pois é exatamente isso o que não estamos fazendo!

— E se você querido leitor, está lendo esse artigo em um smartphone que tal olhar ao redor e ver se alguém a seu lado não está querendo conversar com você?

Faça por você. Mas, faça-o agora!

— Antes que precise virar lei.

Autor: Mustafá Ali Kanso

Fonte:http://hypescience.com/estamos-esperando-lei-que-regulamente-nossa-sensibilidade/?utm_source=feedburner&utm_medium=email&utm_campaign=Feed%3A+feedburner%2Fxgpv+%28HypeScience%29



Nenhum comentário:

Postar um comentário

Agradecemos a sua participação!