Interação Mente e Corpo e Dissociação

Por Adilson Mota

O uso da razão na busca da verdade compõe a base do modelo científico atual, conhecido como método cartesiano, contribuição dada pelo filósofo Descartes, no século XVI. Assuntos transcendentais foram objeto de estudo do filósofo que não deixou de utilizar os seus raciocínio e lógica para averiguar temas como Deus e a existência da alma.

A partir do século XIX o Positivismo tomou corpo e nada é aceito sem as devidas provas ou evidências. Hipóteses e opiniões não são fatos, não podendo constar do rol das verdades estabelecidas. Com relação à existência da alma, porém, este método não tem sido utilizado, descartando-se a ideia aprioristicamente, pois que não se sabe de nenhum estudo ou pesquisa científica comprovando a sua não existência.

O desenvolvimento da Biologia no conhecimento da estrutura do ser humano, principalmente quanto ao funcionamento do sistema nervoso, mais afastou os cientistas do estudo da alma, relegando-a ao plano do inadmissível. Contraditoriamente, a ciência racional excluiu um tema das suas pesquisas afirmando algo antes de buscar as evidências ou provas a respeito.

O pensamento, que para Descartes era originado na alma, hoje é tido como produto das funções cerebrais. O objetivo gerando o subjetivo, o denso originando o sutil, numa inversão de entendimento daquilo que se imaginou desde a Antiguidade.

Apesar disto, a alma se revela através de mil detalhes em todos os lugares, bastando ter atenção e saber olhar; mais que isso, querer olhar. Experiências de quase morte, estudos reencarnatórios, ocorrências mediúnicas, fenômenos paranormais, até mesmo processos dissociativos podem ser indícios de que a alma se insinua às nossas vistas mostrando-se de mil modos como a demonstrar-se, sem no entanto ser levada a sério, a não ser por poucos estudiosos que, enfrentando as críticas e arriscando a sua reputação, tornam-se verdadeiros cientistas não afirmando nada a priori, a não ser depois de haver material suficiente para possibilitar deduções.

Não estamos retornando ao dualismo de Descartes onde parece que a mente (ou espírito) está ligada ao corpo, porém cada um agindo independentemente, segundo a sua estrutura e mecanismos próprios e suas funções específicas. O ser subconsciente e o soma possuem arcabouços próprios, mas, apenas para efeito didático podem ser separados. Interagem, influenciam-se mutuamente, tendo o primeiro como fonte de todas as cognições e sentimentos. O subconsciente é o formador do soma, guardando em si não apenas os recalques, conforme estudos de Freud, mas todas as memórias presentes e passadas, harmoniosas ou patológicas. É o propulsor da matéria. A alma pensa enquanto o corpo executa.

Os fenômenos hipnóticos e de sonambulismo revelam uma mente dissociada do corpo, mais vibrante e capaz do que quando integrada a este. Transfere-se para outro local, visita outras regiões, penetra em ambientes diversos, descreve situações passadas, presentes ou futuras, tudo isto sem o uso dos sentidos físicos, mostra-se mais viva do que sob a influência corporal.

Ao mesmo tempo, o soma parece carecer de vida, desfalece, recolhe-se a apenas uma vida vegetativa mantida pela sua própria energia vital.

Isto mostra que o pensamento existe a despeito da matéria e que a vida está na psique e não no corpo, como afirmam muitos; que o soma depende da psique e não o contrário. Enfim, que a vida existe sem a matéria, mas a matéria não sobrevive sem a psique.

Este entendimento nos leva a enxergar como naturais certos processos tidos como patológicos. O próprio sonambulismo, rotulado como transtorno do sono, os diversos tipos de transes, as crises de ausência, algumas convulsões e outros, são casos em que a análise numa perspectiva monística deixa a desejar. A mente e o corpo que se interrelacionam não permanecem sempre assim dispostos. Há instantes em que as ligações entram em dissociação, afrouxam-se os laços, o soma já não é tão influenciado pela psique. Esta parece que distancia-se deixando o corpo mais entregue a si mesmo, enquanto que ela mesma aure uma certa liberdade e um descanso das pressões impostas por aquele.

A liberdade da alma agindo extracorporeamente provoca fenômenos que podem ser estudados e analisados com a finalidade de se conhecer melhor a sua estrutura psíquica, seus meios de ação e suas interrelações com o corpo, formando matéria de estudo que atravessa tanto a Biologia quanto a Psicologia.

Fonte:http://adilsonmota.blogspot.com.br/





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